quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Almas Feridas - Parte 2

San que estava perto do lampião o apaga tão rápido quanto um impulso nervoso, desesperadamente nos entreolhamos e tentávamos achar algum lugar para nos esconder, o que não seria tão fácil numa cabana tão pequena, assim Ju se escondeu atrás de uma velha cortina empoeirada, já San e eu nos escondemos debaixo de uma cama. Enquanto esperávamos com o pânico dentro de nós, a porta finalmente se abre, e um alguém entra, como estávamos debaixo da cama, apenas pudemos ver os pés do sujeito, ele calçava coturnos, e pelo ranger do velho piso de madeira, ele parecia ser corpulento, assim quando percebi havia gotas de um vermelho escuro que pingavam ao chão, ele solta um resmungo e solta algo no chão, e percebemos que era um braço amputado, e havia escrito (colocar vingança em francês aqui), que seria isso? Certamente Juliana saberia se visse. A Sandra parecia muito agitada atrás de mim, e derruba algo com o pé, o homem para em silencio, e caminha em direção a cama e começa a abaixar-se, quando de repente um rato passa pelo meu corpo, e sai em direção ao homem, que o esmaga com o pé, e joga-se na cama. Essa não; e agora o que faríamos para sair daquele lugar? Decidimos por esperar ele dormir para que pudéssemos sair, antes disso seria impossível. As horas passavam, o homem já dormia mas a coragem é o que nos faltava, não queríamos fazer barulho para acordar o homem, porém com aquele assoalho de madeira, seria impossível causar o mínimo ruído, então eu comecei a pensar em um plano, digitando ele pelo celular para mandar para Ju, enquanto escrevia, San estava lendo o que eu pensava, assim enviei para Ju, percebi que ela se mexia atrás da cortina para pegar o celular que vibrara, disse na mensagem que iríamos sair com cautela debaixo da cama, mas depois correríamos até a porta e sairíamos, voltando o quanto antes para nossas cabanas. Assim eu comecei a me arrastar, tentando fazer o mínimo de barulho possível. Quando consegui ficar em pé, pude perceber que o homem estava dormindo de lado, não conseguia ver o seu rosto, queria reconhecê-lo, mas Ju me puxou, e fomos até a porta esperar por San sair debaixo da cama, assim abrimos a porta emperrada, fazendo um barulho estrondoso, e corremos como nunca antes para a minha cabana, era o mais viável a ser feito de momento, assim que entramos eu só pude dizer “O que foi aquilo?”. Estávamos completamente tomados pelo pânico, histeria e desespero, não estava conseguindo respirar, minha boca estava completamente seca, e podia sentir meu sangue sumir das veias, até que comecei a ouvir gritos de desespero na minha cabeça, ouvi pessoas chorando e implorando por piedade, logo desmaiei encosto à porta do chalé. Acordei com San e Ju dormindo comigo na cama, quando olhei no relógio eram sete e meia da manhã, decidi acordá-las para que pudéssemos fazer alguma coisa sobre o assunto, precisávamos falar com o gerente do hotel, porém logo que fiz o comentário sobre contar ao gerente, San me disse que não era uma boa idéia porque nós não sabíamos se o gerente estava envolvido em alguma coisa, então teríamos que resolver por nós mesmos. Disse para as meninas irem tomar o café da manhã, que eu já iria. Assim, quando elas saíram, eu decidi tomar um banho, estava cansado e com fortes dores no corpo. Fora uma noite agitada, e cheia de pesadelos, com muitas mortes e muita confusão, dei de ombros e segui para o restaurante, precisava pensar, e bolar um plano junto com as meninas. Chegando lá, não encontrava as meninas em lugar nenhum, perguntei perguntar alguns de nossos amigos que estavam tomando o café da manha, porém eles diziam que tinham visto as em lugar algum desde ontem a noite. Percebi que eles me encaravam, como se eu fosse um ET, eu estava preocupado e não conseguia parar de pensar no ocorrido da noite passada, foi algo que nunca pensaria que ocorresse comigo. Comecei a ouvir vozes novamente, porém desta vez com uma tristeza profundo que se instalou em minhas entranhas, senti a sensação de desmaio novamente; de repente Gabi chama por meu nome, e a sensação passa tão rapidamente quão ela chegou; ela perguntava se estava tudo bem, e disse que eu estava muito pálido, e que parecia que estava passando mal; rebati dizendo que estava bem, de forma mais seca possível. Saí correndo daquele restaurante, precisava saber o que acontecera com as meninas. Parecia mais frio do que antes do lado de fora da casa, nuvens nubladas e escuras forraram o céu de SilentWood, senti que um forte nevasca estava por vir e as coisas ficariam difíceis rapidamente; decidi ir o mais rápido possível para a minha cabana, elas provavelmente estariam lá, corri o mais rápido que poderia correr, quando cheguei lá, olhei a minha volta porém não via nada, adentrei no chalé e me deparei com o ambiente todo revirado, com marcas de sangue por todos os lados, havia escrito na parede, repetidas vezes “Vengeance”, eu ainda não sabia o que isso significava, logo as vozes no meu ouvido ficaram intensas, gritavam por mais desespero do que antes, elas pediam ajuda à mim, a tristeza tinha se instalado em meu corpo novamente, junto com “Claire de Lune”, não podia suportar mais aquilo, estava enlouquecendo, e desmaiei ao batente na porta novamente, novamente fora um sono agitado como da outra vez. Ao despertar, estava me sentindo como se estivesse congelando, levantei num salto. Estava no meio da floresta, na neve vestindo apenas um, sobretudo longo; estava perdido, para todos os lados que eu olhava eu apenas via altos pinheiros e neve, muita neve. Até que senti a presença de alguém atrás de mim, quando virei assustado percebi que era San, ela me olhava profundamente, e disse para mim correr rápido, sem hesitar comecei a correr o mais rápido que pude, corremos muito pela neve, até que avistamos uma fumaça. Chegando mais perto pude perceber que era minha cabana. Entramos e San trancou a porta. Abri a boca para falar, porém San tapou minha boca e disse para que eu não falasse nada, era perigoso demais, disse que eu não tinha noção do que estava acontecendo, eu apagara por três dias, e as coisas estavam ficando difíceis. Ouvimos um som de madeira rangendo na varanda, e San arregalou os olhos, sentia o desespero que ela sentia. Depois de alguns minutos de silêncio na cabana, ouvimos alguém descendo as escadas e correndo pela neve, finalmente San tira a mão da minha boca.

- San, o que está acontecendo? Porque você está toda esfarrapada e machucada?

-Eu não posso dizer ainda, é tudo muito vago, coisas ruins estão acontecendo, pessoas estão sumindo, como Ju, ela sumiu desde a manhã que você disse para irmos tomar café da manhã, comecei a procurar por ela e me perdi na floresta, na floresta comecei a ouvir vozes, ouvi relatos de coisas horríveis, essas vozes não saiam da minha cabeça, até eu chegar nas redondezas daquela cabana. Estou tentando desvendar esse mistério, não sei por que, mas algo está acontecendo naquela cabana, e coisa boa não é. Nós precisamos correr até lá, precisamos ajudá-los, precisamos acalentá-los.

- Eu acredito em você San, eu também estou ouvindo vozes, elas gritam e imploram por ajuda. Vamos, temos que descobrir o que está acontecendo – comecei a me dirigir até a porta, e num salto ela impediu que eu abrisse a porta, como se eu estivesse tentando me dirigir ao inferno por vontade própria.

-Não, não faça isso; as vozes são perigosas e estão em toda parte, elas mudam seu destino e fazem coisas estranhas acontecerem, precisamos ficar aqui e esperar clarear o dia.

Não a obedeci, e disse que tínhamos que descobrir o que estava acontecendo naquele lugar; tudo estava tão estranho, sentia-me como se não estivesse mais na terra, e sim em alguma outra dimensão paralela, nem sabia mais onde estava, o que estava acontecendo. Disse a ela que eu precisava ir até a biblioteca da cidade de SilentWood, que não era muito longe do hotel, ela histérica me impedia de sair, empurrei-a e sai. Ela veio correndo atrás de mim, e fomos rápido para o estacionamento do hotel, no caminho não víamos nada a não ser neve, árvores e o imponente hotel. No estacionamento, sem manobristas o que era muito estranho, as pessoas haviam sumido como San havia dito, pegamos uma chave no pára-brisa de um carro de luxo, dei a partida, não sabia dirigir muito bem, meu pai havia me dado algumas aulas, mas não era o suficiente, fiz o que pude para que pudéssemos chegar à biblioteca que ficava a mais ou menos 5 km do hotel. No meio do caminho, víamos pessoas na estrada, pessoas com rostos distorcidos, que ficavam paradas fitando nossos olhos; podia ver a tristeza escorrendo pela alma daquelas pessoas, podia ver o sofrimento, até que ouvi uma voz feminina eu meu ouvido:

- Acalme-se não vamos machucá-lo, queremos justiça, queremos justiça – Fiquei horrorizado com aquela voz, até que olhei para o lado e San dormia – Você precisa nos ajudar, você sabe o que fazer, ligue os fatos; seja rápido.

Assim que percebi, já estávamos no centro da cidade, que estava completamente vazio e escuro, exceto por uma luz que estava acesa na praça central. Segui até a biblioteca com o carro. Tentei acordar San, mas ela dormira num sono profundo e a voz me orientou que ela ficaria bem, não havia ninguém ali. Mesmo desconfiado, corri para a biblioteca. Era tarde, a biblioteca já deveria estar fechada, porém a porta principal estava entreaberta e as luzes do corredor principal estavam acesas.

Continua...

Ca Menzoni