terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Em uma noite de verão 2

Não havia mais razão para viver. Eu havia perdido tudo. Não tinha mais nada para amar e nem cuidar. Ninguém para cuidar de mim e me amar.

Sem rumo me dirigi à entrada, novamente ignorando o corpo de meu pai.
- Ei, Carina, você está bem? - perguntou Jonny, meio sem jeito, ou John, como chamava meu pai. Eles eram amigos intimos, imagino que Jonny estivesse abalado pelo acontecimento também.
- Como você acha que estou me sentindo?
- Se quiser pode ir lá para casa até conseguirmos fazer contato com algum parente seu.
- Não, eu quero ficar aqui em casa, sozinha.
- Você não pode - ele disse em um tom alarmante - Não entende? Já contatamos Nora de que ele deveria procurar um local seguro. Você ainda É a próxima vítima.
- Jonny você nunca vai entender como é a dor de perder um pai desse jeito. Assassinado. O seu pai morreu de velhice agora que você tem 50 anos! Eu quero vingança, eu quero matar esse sujeito!
- Eu entendo, mas é muito arriscado. Você vai ter sua vingança. Mas por enquanto, eu lhe peço, fique lá em casa. - ele olhou para mim de um jeito que não pude negar. Eu vi a dor em seus olhos e o desespero.
- Tudo bem - disse finalmente vencida - eu fico.


Já na casa dele comemos macarrão instantâneo. Fomos deitar cedo, sem assunto e sem nada para fazer. Ele fez uma cama no sofá para mim, o sofá dele era muito confortável.
Eu tive um sonho muito estranho esta noite, sonhei que eu estava estirada no chão, no sol, sagrando, Gregory, mais conhecido como Van Don Launmer, estava passando sal e limão sobre os meus ferimentos. Foi horrível.
Acordei assustada ainda de noite ouvindo alguns barulhos. Devagar me levantei e acendi a luz, quase tive um "treco" quando vi Jonny parado na escada com cara de zumbi. Ele correu para meu lado, cobriu minha boca com as mãos, me impossibilitando de fazer algum barulho, apagou a luz e se escondeu atrás do sofá, me puxando junto.
- NUNCA acenda a luz quando ouvir barulhos, entendeu? - ele sussurrou em meu ouvido.
Eu balancei a cabeça em sinal afirmativo. Ele destapou a minha boca.
- O que está acontecendo?
- Eu desci para beber água e vi um vulto passando. Duas vezes. Se for o Gregory, ele realmente é muito descuidado.
- E agora o que vamos fazer?
- Vamos sair daqui e chamar a polícia.
Ele foi me puxando até a porta de entrada e tentou abrir, trancada. Fomos até a janela e tentamos abrir, também trancada.
- Ele é mais esperto do que eu pensava.
Tentamos todas as janelas da casa. Deve ter levado bastante tempo.

As luzes se acenderam quando estávamos tentando abrir a porta dos fundos. Olhamos para trás e lá estava ele.
- Quer dizer que nos encontramos novamente não é? - Gregory perguntou com um sorriso de malícia no rosto.
- Eu só tenho uma coisa a dizer com isso. Na verdade, a perguntar. - falou Jonny, ele tinha uma coragem que eu admirava - Por que você quer fazer chantagem à Nora?
- Oh! Eu não queria fazer chantagem. Eu queria vingança.
- Por que? - eu perguntei meio abobada, surpresos eles olharam para mim.
- Na época do colégio eu gostava dela, mas tinha vergonha de expor meus sentimentos, e durante muito tempo me esnobou. Quando crescemos ela me contratou, eu precisava de dinheiro. Ela começou a namorar seu pai e teve você, uma criatura insignificante. Agora consegui me vingar com seu pai, mas não com Nora.
- Isso não está nem um pouco certo. Que culpa tinha meu pai nisso? - perguntei indignada.
- Se ela não fica comigo, não fica com ninguém - Gregory respondeu. A raiva transparecendo em seus olhos.
- Você é um egoísta maluco! - eu me admirei com minha coragem naquele momento.
- Ah! Esqueci de dar a noticia maior. Eu vou te matar, agora e aqui. - ele olhou para Jonny - e você também caro Senhor Jonny.
Ele sacou uma arma e apontou para mim. Atirou, senti minha pele queimar no lugar que foi atingido. Eu caí no chão e me contorci de dor. Acho que nessa hora a polícia arrombou a porta.


- Carina, por favor, acorde. Por favor.
- Jonny?
- Sim?
- Você está vivo? Está bem?
- Eu estou bem - ele respondeu.
- Então isso é o que importa. Me deixe morrer eu não quero mais viver. Só quero uma coisa.
- Qualquer coisa - disse ele entre lágrimas e soluços.
- Eu quero matar Gregory.

Ele olhou para mim com cara de assustado. Sem cerimônia me ergueu e colocou sobre seus ombros. A dor estava quase dominando, mas eu teria de resistir apenas mais um pouco. Ele colocou uma faca em minhas mãos e sussurrou:
- Todo seu - segurou minha mão e a posicionou - é só ir fundo.
Olhei para baixo e vi uma imagem embaçada de um homem se contorcendo, parecendo que estava tentando se livrar de algo amarrado na boca.
Hesitei. Será que eu queria ser igual a ele? Queria ser uma menina assassina? E a resposta? Sim. Eu queria. Fiz uma força tremenda, mas fiz o trabalho sujo e me rendi, para finalmente descansar em paz e encontrar meu pai, onde quer que ele estivesse.