quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Amor sem Fronteiras

Está na hora de acabar com tudo isso. Essa história já me custou muito caro. Magoei meus amigos. Magoei minha família. Eu me magoei.
Simplesmente, vale a pena continuar? Vale a pena levar isso adiante? Vale a pena ser uma pessoa que eu não sou?

Essa é a minha história, a história de uma garota que deu tudo de si, por um amor impossível. Não é verdade se eu disser que realmente esqueci ele, pois não esqueci. E agora estou aqui, completamente sem nada. Moro de favor na casa de uma amiga, que apesar de tudo o que eu fiz, ainda me ama e me quer.

Acho que chegou a hora de parar com esse vício, de ser quem eu sou, de verdade, de assumir minhas responsabilidades e de me redimir com todos.

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Primeiro ano no colegial, ansiosa e nervosa me dirigi apressadamente à minha carteira. Eu entrei no meio do ano em uma escola nova, minha mãe havia sido transfirida de Chicago para a Cidade do México. Não estava feliz com aquela mudança repentina, sempre acho um mico mudar de escola, eu odeio!

Sentei em minha carteira e joguei a bolsa no chão, abaixei a cabeça e fiquei rezando para aquele dia acabar de uma vez.

Agora vem a parte interessante, mas ordinária. Pode ser loucura , essa coisa de amor a primeira vista não existe. Nunca existiu. Mas aquilo FOI amor a primeira vista.

Ele passou divinamente em minha frente, parecia flutuar, ele não caminhava, ele voava sobre nossas cabeças paracendo um anjo, um deus grego. Fiquei olhando ele se sentar na carteira em frente a minha e fiquei olhando sua nuca a aula inteira, até a hora do almoço.

Bateu o sinal e eu levei um susto, eu simplesmente não havia ouvido nada que o professor havia falado. Me levantei da carteira e fui, sem pressa, para a ila do refeitório. Depois de comprar uma maçã, um pudim de chocolate e um suco de uva, comecei a procurar um lugar para sentar.

- Oi, você é a garota que veio de Chicago.

Levei um susto, virei para trás. Era a menina que havia me mostrado minha sala.

- É sou eu sim - dei um meio sorriso de vergonha.

- Vem sentar comigo, quase ninguém senta na mesa em que EU sento. Acho que eu sou uma estranha por aqui.

- Então somos duas - dessa vez dei um sorriso sincero de compreensão.

Eu me sentei na mesa com ela, e realmente, haviam apenas, eu, ela, um garoto de óculos e mais duas meninas ruivas e gêmeas. Desembrulhei minha maçã e dei uma dentada, tomei um gole de suco.

- Então, meu nome é Leyla, e o seu? - perguntou a garota enquanto desembrulhava seu cupcake.

- Eu? Lea. Na verdade é Lorena, mas eu não gosto de Lorena. Me chama de Lea.

- Ok, Lea. - demos uma risada nervosa.

Em três dentadas eu já havia terminado minha maçã, terminei o suco e comecei a comer o pudim. Quase me engasgo quando vejo aquele garoto lindo passando novamente.

- Hum... Vejo que você reparou no Jordan. Ele não é flor que se cheire já vou te avisando. É tipo uma planta carnívora que atrai os mosquitos depois os engole. Duas garotas que já namoraram com ele repetiram de ano.

- Sério? Ele tem um rosto tão angelical, como pode um garoto assim ser tão... - não encontrei a palavra certa - sei lá... vamos esquecer esse assunto.

- Sim, vamos!







Passaram-se duas semanas e eu e a Leyla ficamos super amigas. Passeávamos juntas e íamos fazer compras, a tarde, depois da escola ela ia na minha casa e nos sábados eu ia na casa dela. No começo da terceira semana parece que tudo mudou.

Cheguei como de costume, coloquei minha bolsa no chão e sentei esperando o professor chegar. A Leyla passava, a gente ficava conversando e quando o sinal batia para o início das aulas eu virava para frente e via o garoto mais lindo do mundo sentar na minha frente. Porém, dessa vez ele olhou para trás e disse:

- Oi, você é nova por aqui? - ele parecia bastante impressionado.

- Sim, sou nova sim, mas, já fazem duas semanas.

- Ah sim! Estou lembrado. A Lorena...

- Lea.

- Quê?

- Me chama de Lea - corrigi rapidamente.

- Me chame de Jordan.

O professor de español entrou na sala como sempre, o Jordan continuou me encarando, isso me deixou muito sem graça. Nenhum menino lindo daquele jeito ficava me encarando por tanto tempo.

- Sr. Jordan Kevin, poderia virar-se para frente e prestar atenção na aula?

Ele virou lentamente.

O sinal tocou, eu e a Leyla fomos para a fila da cantina. Eu peguei milk-shake e fritas e a Leyla um sanduiche natural e uma agua de côco. As vezes ela tinha umas crizes de ser natureba. Quando íamos sentar em nossas mesas o Jordan apareceu.

- Ei Lea, quer vir sentar com a gente? - ele apontou para a mesa dos populares, sempre cheia de gente comendo frutas ou se exercitando, eu me sentiria uma estranha comendo fritas.

- Não obrigada! Tem muita gente pro meu gosto. Eu acho que prefiro comer minhas fritas também, se não se importa. Não estou de regime.

Ele riu - Você é engraçada. Mas, se um dia quiser começar a malhar e comer bem é bem vinda - e se retirou.

- Eu não diria que aquilo é comer bem.





Isso continuou acontecendo durante mais três dias quando eu decidi aceitar o convite dele.

- Você pode vir também Leyla.

- Não obrigada, pefiro não sofrer uma lavagem cerebral.

- Leyla, tá tudo bem se eu for apenas hoje?

- Tá, tá tudo bem. Mas vê se não vai viciar em frutas. - ela deu uma piscadela.

Caminhei até o ponto de encontro dos populares, fui bem recebida com olás e "como vai?", e todo o tipo de informalidade possível. O local tinha um cheiro forte, que de início eu não estava reconhecendo. Havia realmente muita gente, que ocupavam duas mesas inteiras.

As mesas ficavam do lado de fora do pátio, onde ainda batia um pouco de sol. Olhei para um dos lados, havia um jardim, com várias flores de todas as cores possíveis, nunca havia reparado, era linda aquela parte da escola. Olhei para o outro lado e logo mudei minha opinião sobre o quesito "linda". Haviam dois meninos, quer dizer, adolescentes, usando drogas. O cheiro era bem forte. Às vezes vinha outra pessoa e usava também. Achei aquilo horrível, repulsivo, pensei em sair correndo daquele lugar horroroso.

- Ei garota. Quer experimentar? - um dos garotos perguntou.

- Não, não obrigada! - eu respondi apressadamente com o intuito de sair dali bem rápido.

- Ah, qual é gata, senta aí. Experimenta. - ele insistiu.

Todos começaram a me empurrar em direção aos garotos. "Experimenta!", "Vamos para de ser covarde.", "Vamos, experimente".

Eu peguei a droga em minhas mãos e coloquei um pouco na boca. Nunca havia experimentado aquela sensação, era uma coisa meio maluca. Não sentia meus pés tocarem no chão, comecei a ficar meio tonta, sentei. Não enxergava dois palmos a minha frente.

- Eu não estou bem. - aleguei.

- Isso é normal na primeira vez que vocês experimenta. É só uma questão de tempo.





Estava sentada em minha cama, um pouco tonta ainda, mas não tanto. Fiquei pensando naquele momento em que experimentei algo tão viciante. Aquilo sugou todas as minhas forças, mas eu gostei. Aliás, eu adorei! Eu precisava experimentar de novo. Apenas mais um pouco e pararia, deixaria isso de lado, tenho certeza.

Peguei meu casaco e as chaves de casa, deixei um bilhete para minha mãe que iria à casa de uma amiga e sai, de bicicleta até a escola. Ao chegar lá vi alguns garotos, não os mesmos, mas eram três, e estavam fumando. Me aproximei.

- Eu posso me juntar a vocês? - perguntei com muita vergonha.

- Claro, senta aí. - disse um dos garotos loiros.

Eu me sentei ao lado dele e eles me ofereceram um cigarro.

- Não, eu quero mesmo é aquela... acho que chama cocaína. - falei na maior cara de pau.

- Ah, desculpe, a gente não trouxe hoje. Apenas cigarro e maconha mesmo.

- Lea?

Levantei a cabeça e vi Jordan, fiquei muito surpresa e hipnotizada.

- Oi Jordan - falei enquanto levantava, com muita vergonha.

- O que veio fazer aqui? - ele olhou para a minha cara com muito espanto.

- É que sabe, eu... experimentei aquilo hoje de manhã e quiz experimentar só mais um pouco sabe? É... isso... - eu disse.

- Ah! Já entendi. Vamos à minha casa. Eu acho que eu tenho um pouco ainda.

Entramos num carro muito bonito, preto, de estilo conversível. Chegamos à casa dele e sentamos em sua cama.

- Desculpe o incômodo Jordan.

- Não se preocupe. Meus pais não estão em casa, então podemos usar à vontade - ele piscou.

Ele subiu em uma cadeira e pegou uma caixa grande em cima do guarda-roupa.

- Pensei que você tinha um pouco apenas - dei uma risada sonora, ele olhou para minha cara e começou a rir também. Olhamos um nos olhos do outro e ficamos durante um minuto, porém, um minuto intenso.

- É e então? Quer? - ele tirou um saquinho da caixa e me ofereceu.

Não sei mais o que aconteceu. Não lembrei de nada de manhã, quando acordei em minha cama.

Levatei com dificualdade. Olhei em volta e não reconheci o lugar. Cambaleei até a porta. Ela dava para um corredor bem iluminado e sofisticado. Realmente não era a minha casa. Fui andando pelo corredor ainda sonolenta.

- Lara, Lara, ela acordou! - falou um homem de branco.

- Como assim? - perguntei.

A Leyla chegou e olhou espantada para mim. Mais duas mulheres e um homem chegaram.

Leyla me levou para o quarto em que eu estava antes. Me sentou na cama e afastou alguns aparelhos de hospital.

- Lea. Eu havia te avisado sobre o Jordan. - ela hesitou e então eu falei:

- Quem são aquelas pessoas, o que eu estou fazendo aqui?

- Aqueles são meus pais e a enfermeira, e o de branco é o doutor. Lea, você sofreu um acidente de carro e ficou em coma. Perdeu pequena parte da memória também. Você começou a namorar com o Jordan e começou a beber e se aproximar do mundo das drogas. Seus pais, quando descobriram, te expulsaram de casa. Nesse último sábado você sofreu um acidente, Jordan estava bêbado e bateu o carro na Praça Central e agora você está aqui na minha casa. O Jordan nem ligou para sua situação. Ele já está outra.

Depois que soube disso me recuperei e sai do mundo das drogas. Agora estou aqui, tentando me redimir com todos que magoei. E procurando um jeito de agradecer tudo o que Leyla e seus pais fizeram por mim.