sexta-feira, 2 de julho de 2010

O passado é tão chato - Conto

Oi gente... acho que faz tempo que prometi esse conto para vocês. E também faz tempo que eu terminei. hehehe

O PASSADO É TÃO CHATO!!
Estávamos jantando na mesa da cozinha. O meu humor naquele dia estava péssimo e a minha paciência também não estava maravilhosa.
- Mãe! Você sabe que eu não gosto de peixe! - minha irmã disse quando mamãe colocou um pedaço enorme de peixe em seu prato.
- Mas você tem de comer! Quando eu era pequena eu não reclamava, porque éramos em cinco irmãos e a comida era pouca! Quando tinha peixe era uma festa!
- Ah não! Lá vem você falar do passado de novo! Já passou, ninguém mais quer saber! - eu falei quase gritando.
- Só estou dizendo que vocês têm tudo hoje em dia e... - ela começou a dizer mas eu interrompi.
- Ah mãe! É claro que sua época era um lixo! Não tinha nada para fazer! Devia ser um saco.
- Pois fique sabendo que os dias atuais não são grande coisa. Hoje os filhos não respeitam os pais e há muito mais violência. E a diversão que você chama de Internet é bem perigosa.
- Eu vou para o meu quarto! Perdi o apetite.
Me levantei e subi as escadas. Parei na metade e virei para trás.
- Eu apenas não sei como você sobreviveu.
Dei uma última olhada nos rostos de minha irmã, meu pai e minha mãe. Eles estavam com uma cara de quem não estava entendendo nada daquela minha revolta. Eu nem liguei, continuei subindo a escada.
Entrei no meu quarto e me joguei na cama, logo adormeci.
Acordei e já estava claro. Me assustei com o local onde estava. Não parecia nem um pouco com o meu quarto. Haviam duas beliches e uma cama de casal, todos em um pequeno espaço. Em uma das paredes havia também um guarda-roupa velho.
Eu me levantei com certa dificuldade de acreditar que eu estava realmente acordada. Pisquei os olhos três vezes e eu continuava naquele cenário. Quando olhei para o chão percebi pela primeira vez que eu estava deitada em um colchão. Fiquei com medo de que eu tivesse sido sequestrada, porém, eu não estava presa, acorrentada, amordaçada nem nada.
Saí do quarto e fui parar em um corredor escuro. Fui na ponta dos pés até a metade dela e parei em frente a outra porta. Eu a abri com cuidado, era um banheiro e não havia ninguém. Continuei andando até o final do corredor. Havia uma escada bem estreita, mas tinha corrimão. Desci a escada que dava para uma cozinha. Sentados nela tinham duas meninas, um garoto, uma mulher e um homem, todos tomando café tranquilamente.
- O-onde estou? - perguntei.
- Filha você está tremendo. O que houve? - a mulher falou com uma voz num tom um tanto preocupante.
- Filha? - sim, eu realmente estava sonhando. Aquela mulher não era a minha mãe. - Você deve estar com febre - ela se levantou e colocou a palma da mão em minha testa - Não está quente. Vá se trocar ou vai se atrasar para a escola.
"Bom," - pensei - "deve ser um sonho, daqui a pouco acaba. Enquanto isso eu vou aproveitar o máximo."
Fiz todo o trajeto até o quarto em que eu acordei e abri o guarda-roupa. Procurei alguma coisa que não fosse muito brega.
- Espera aí. Olha essas roupas! Eu estou na época em que minha mãe era jovem! Será que eu?...
Corri para o banheiro e olbhei em um espelho que tinha perto da pia.
- Oh Meu Deus! - eu exclamei.
Ali no espelho estava refletida a imagem de minha mãe, com 16 anos, por aí. Eu estava completamente abobada. Lembrei que era apenas um sonho. Fiquei repetindo para mim mesma: "Logo vai passar, logo vai passar!"
Voltei para o guarda-roupa e peguei uma saia que batia no joelho. Peguei também uma blusa que parecia um séter, mais a manga não chegava um palmo depois do cotovelo.
Depois de lutar tentando prender o cabelo decidi pedir ajuda a minha avó, ou mãe, o que quer que fosse. Na escola ocorreu tudo bem. Mas na saída, em um canto, vi alguns garotos fumando. Não sabia o que era, mas o cheiro era bem forte.
Encontrei minhas tias-irmãs e como ainda não sabia o caminho de volta para casa me juntei à elas. Passamos em frente dos caras e eles nos disseram:
- E aê? Vai um aí?
Eu quase vomitei com o cheiro. Eles começaram a chegar mais perto e foram nos encurralando. Eu enxerguei uma saída ao nosso lado e as puxei, saímos correndo até perder a escola de vista. Sentamos em um banco. Pareciam três doidas de saia ou calça cigarette.
Alguns amigos de minhas tias chegaram e ficamos conversando e divindo duas garrafas de tubaína até o cair da noite.
Aquela semana se passou e nada de eu acordar. Ao passar dos dias eu fui descobrindo que o rock que eu gostava no ano de 2006 havia se originado naquela década de 60. Os Beatles que eu achava tão bregas, mas que nunca havia dado um chance! Como eu estava enganada! As músicas deles eram lindas. Eu e minhas irmãs íamos a festas e shows. As roupas também não eram tão ruins.
Até que um dia estávamos todos sentados na mesa. Eu (ou minha mãe Lucy), Carla(minha tia), Julia (minha outra tia), Rodrigo (o tio mais novo), Henrique (meu tio mais velho), minha avó Maria e meu avô Jorge. Era a noite do aniversário de minha mãe. Eu havia até esquecido de que eu estava sonhando.
- Filha, queremos lhe dar este presente. - meu avô disse enquanto tirava de uma caixinha um colar.
Ele caminhou até onde eu estava sentada e colocou em meu pescoço o colar. Ele se sentou novamente e eu fiquei observando o meu presente. Nele havia escrito em letras muito bonitas o nome de minha mãe: Lucy.
- Obrigada. Nunca vou me esquecer desse presente...
Eu não consegui terminar minha frase. Me dei conta de que estava em meu quarto. Havia acabado de acordar. Me levantei muito triste. Realmente havia sido um sonho.
Naquela semana em meu sonho eu havia percebido que os anos 60 não foram tão ruins. Apenas o modo de vestir e as condições sociais eram muito diferentes. Mas os adolescentes daquela época buscavam a mesma coisa que os adolescentes na minha época, a liberdade. Naquela época predominavam sim as drogas, porém, geralmente nós só enxergamos as coisas ruins. Eles também criaram sua própria moda, seu próprio estilo, seu próprio ideal. Finalmente aprendi a apreciar devidamente aquela tempo.
Quando me levantei e comecei a me arrumar para a escola olhei para o espelho e qual não foi minha surpresa, o colar de minha mãe ainda estava em meu pescoço.
- Mãe! Vem ver o que eu achei! - eu gritei e logo minha mãe apareceu na porta.
Eu lhe entreguei o colar e ela falou emocionada:
- Filha onde você o achou? Eu havia perdido esse colar faz 10 anos! Ele é muito especial pra mim. - saíam lágrimas de seus olhos.
Em vez de responder, eu me desculpei por ter dito aquelas coisas para ela na noite passada. Até porque ela não acreditaria em mim.
Nós nos abraçamos e o naquela hora eu tive certeza de que levaria tudo o que aprendi durante toda a minha vida.

Is Angelotti