segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Voltas do coração - Capítulo 1

Já estava para me deitar quando ouço o toque do telefone. Atendo, porém, não reconheci a voz que estava na outra linha.
- Alô? - perguntei com voz de indignação, o relógio marcava 11 horas da noite.
- Por favor, perdoe-me se a acordei senhorita, porém, quem está falando aqui é Bento. Sou um primo seu, muito distante. Liguei pois o Tio José acaba de falecer e deixou algumas coisas para você - estranhamente, o meu mais novo primo falava português, mas tinha um forte sotaque italiano.
Surpresa eu respondi:
- Titio Zé? Meus pêsames! Mas eu nem tenho tanta afinidade com ele! De qualquer forma, como faço para pegar minha parte da herança?
- Se está interessada posso pedir para alguém buscá-la e te acompanhar até aqui.
- Até aqui onde? - perguntei.
- Ora! Onde acha que nosso tio morava? Na Itália! Bem que me disseram que você não era rapida, eh?
- Neste caso eu posso tomar um taxi sozinha e ir até o porto, por que não?
Hesitamos por alguns momentos.
-Então, pode estar aqui amanhã que horas?
- Talvez pela noite. Me passe seu endereço.
Fui anotando enquanto ele falava, nos despedimos e fui me deitar.
Não conseguia dormir com tantos pensamentos me aturdindo. Será que aquele homem falava a verdade? Não seria muito precipitado viajar assim, de repente? Com certeza eu não teria nada a perder. Eu não trabalhava, ganhava pensão de meu pai, idoso, que não sei onde mora. Também não tinha amigos, família nem conhecidos, vivia trancada dentro de casa, enfiada na sala de leitura. Então já havia decidido, eu iria partir amanhã bem cedo.

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Acordei cedo, o sol não havia aparecido ainda, levantei e fui lentamente até o banheiro. Olhei no espelho e a imagem de uma mulher de olhar inocente, cabelos negros até a cintura e bochechas rosadas apareceu, era eu. Eu costumava ter uma aparência séria, nem parecia a minha imagem no espelho.
Comecei a pentar o cabelo das pontas até o couro cabeludo. Fiz um coque no alto da cabeça e coloquei uma presilha prateada. Vesti meu vestido de cetim rodado carmim, e coloquei meu sapato de salto. Aprontei a minha mala e estava quase saindo quando lembro de algo crucial... Olhei-me no espelho novamente, dessa vez me examinando e peguei um batom na gaveta.
Aquele batom vinho, que há tanto tempo não tingia meus lábios com sua cor chamativa.
Peguei minha mala e coloquei o pé para fora, sentindo o ar frio do dia.
Fiquei imaginando o que viria a seguir enquanto chamava um taxi.

Continua...

Is Angelotti